Friday, February 15, 2008

"Into the Wild"

Enquanto o Rodrigo anda pela Patagónia à procura de Bauxite para enriquecer, assim como de mais umas Candidas para me oferecer (espero bem que tragas, sabes que sempre quis ter umas da Patagónia!!!), e eu finalmente arranjei tempo para escrever aqui umas coisas, vamos falar do tal filme do Sean Penn cuja banda sonora introduzi há umas semanitas.


Que a banda sonora era muito boa já eu sabia, agora que se encaixava de forma impecável no filme só mesmo depois de o ver! Como já tinha explicado, o filme conta a estória verídica de Christopher McCandless, um menino rico americano que vivia uma vida de fachada. O pai violento para a mãe e extremamente autoritário para os filhos, tentava a todo o custo manter a imagem de uma vida perfeita, mas tendo na verdade um casamento falso com uma amante, nunca se tendo divorciado da verdadeira mulher. Ora, o nosso amigo Christopher ficou assim obcecado com a verdade como valor moral, e cresceu a desvalorizar a importância das relações humanas e das conquistas materiais (ambos os pais tinham elevados graus académicos e contas bancárias chorudas). Não será de espantar então, que depois de ter acabado o curso na Universidade de Emory com uma média brilhante e com um pé de meia suficiente para lhe pagar uma pos-graduação em Harvard, o nosso amigo se tenha fartado das imposições sociais (todas e qualquer uma) e tenha decidido viver de forma errante. Doou todo o seu dinheiro para caridade, e ficou obcecado com a ideia de ir para o Alasca viver do que conseguia apanhar. Munido de uma espingarda, um guia de plantas comestíveis, e uma mochila de campismo cheia de roupa, ele entrou nas profundezas de uma das zonas mais selvagens do mundo. Infelizmente para ele, nunca mais voltou!!!

Independentemente do filme que está extremamente bem realizado e conta a estória de uma forma bastante poética, o que a mim me atrai no filme é a estória em si. Não por ser única e bizarra, mas por ser bastante comum. O próprio Jon Krakauer (o autor do livro que deu origem ao filme) fez a mesma coisa, mas com bastante mais sucesso tendo em conta que regressou para contar. Outro exemplo clássico e retratado em filme, é o de Timothy Treadwell, um activista pela conservação dos ursos pardos que durante 13 anos passou os Verões acampado no meio dos ursos (um dos poucos animais que se conhece que olha para o ser humano como presa),até que um dia foi comido por um (este pormenor é importante, ele foi mesmo comido!).



O filme Grizzly Man conta a estória do Timothy e entrevista amigos e oficiais do Parque Natural onde ele acampava, para tentar perceber um pouco melhor o que levou o Timothy a fazer um disparate tão grande. De facto, os ursos que ele tanto queria proteger não estavam de forma alguma ameaçados, e nesses 13 anos o mais próximo que ele chegou de caçadores furtivos, foi a um grupo de turistas que queriam fotografar os ditos ursos. A resposta é dada pelo próprio numa gravação que fez enquanto sozinho no Alasca. Depois de ter ficado em segundo lugar num casting para a série "Cheers" (o que implica perder o papel), as aspirações de Timothy, o actor, são severamente abaladas. Como consequência da depressão, o nosso amigo vira-se para o álcool e as drogas, até que nada resta dele a não ser os seus vícios auto-destrutivos. Até que um dia, por razões que ficam por explicar, ele descobre os ursos e o seu estatuto de conservação complicado, e decide que essa será o seu novo objectivo de vida. Mas claro, apenas intervir publicamente pela sua conservação não chegava, ele tinha que ir para junto dos ursos, tinha que intervir fisicamente na vida e ecologia dos ursos, ele teria que ser um urso!!!

O ser humano ocidental está definitivamente desligado da natureza, e como tal da sua própria essência como ser biológico. Não porque construimos casas e cidades que nos permitem um certo distanciamento dessa realidade, mas sim pelo facto de termos desenvolvido meios de comunicação culturais que têm absorvido todo e qualquer contacto com o exterior. Como tal, não será de admirar que certas pessoas sintam a necessidade de se abstrair dessa esfera humana, e tentarem reencontrar-se num contacto com a sua essência biológica. Como alguém que já passou muito tempo na companhia de animais selvagens e do seu ambiente, já experimentei o apelo selvagem que nos faz não querer voltar ao mundo hermético e artificial da sociedade ocidental. É um mundo mais simples, com valores mais simples, e em que a única pressão que sentimos é a de sobreviver e andar por cá mais umas horas. Existe no entanto, o reverso da medalha, pois é também um mundo mais cruel onde a vida tem pouco significado, as mortes são sempre estúpidas, e valores como justiça, moral ou amizade têm pouco significado.

O Treadwell serviu de refeição a um urso esfomeado, enquanto que o McCandless enganou-se nas bagas que devia comer e acabou envenenado. A sociedade humana, apesar de castradora e por vezes frustrante, permitiu-nos florescer como espécie e permite que cada um de nós consiga ultrapassar obstáculos de forma mais eficaz. No fim, o filme acaba com uma frase bastante cliché, mas que é tirada do próprio diário de McCandless "Hapiness is only real if shared...". Da mesma forma, Treadwell não morreu sozinho mas acompanhado por Amie Huguenard que apesar de ter batido com toda a força no urso com o auxílio de uma frigideira, não conseguiu mais do que servir de sobremesa. Parece que no fim, todos nós precisamos de um bocadinho de sociedade...

Em breve...

... num museu perto de si:



Como tudo na vida, esta exposição esteve vários meses em gestação, nasceu a custo e de forma algo traumática, e passou uma infância discreta e atribulada. No entanto, chega agora à adolescência com todas as incertezas inerentes a esta fase de transição, mas sem dúvida na sua melhor forma e na força da vida. Tornada possível pelo jornal Notícias do Parque e pelo Clube Parque das Nações, começou por estar patente no hall de entrada da delegação de Lisboa do IPJ,mas a pouca visibilidade que teve foi suficiente para chegar aos ouvidos do Museu de História Natural da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (ao que parece, a universidade com mais alunos em Portugal) que ficaram imediatamente interessados. Um ano depois, lá estará ela no dito museu. Se passarem no Porto, dêem um saltinho à reitoria na Praça dos Leões e visitem a exposição. É de borla e acreditem que vão ver boas fotografias.

Fotógrafos:

- Ana Catarina Alves
- Ana Rita Amaral
- André Moura
- Catarina Silva
- Henrique Pedroso
- João Quaresma
- Miguel Alexandre
- Manuel Fernandes
- Ricardo Guerreiro
- Rui Guerra
- Sónia Mendes

Sunday, February 10, 2008

@Zumos