Saturday, December 22, 2007

O Problema da Educação

"I taught for thirty years in some of the worst schools in Manhattan, and in some of the best, and during that time I became an expert in boredom. Boredom was everywhere in my world, and if you asked the kids, as I often did, why they felt so bored, they always gave the same answers: They said the work was stupid, that it made no sense, that they already knew it. They said they wanted to be doing something real, not just sitting around. They said teachers didn't seem to know much about their subjects and clearly weren't interested in learning more. And the kids were right: their teachers were every bit as bored as they were."

John Taylor Gatto


Se ignorarmos o tom por vezes excessivamente revolucionário e as ocasionais incursões nas sempre suspeitas teorias da conspiração, conseguimos perceber que o senhor até tem razão. Para mim o mais notório é quando refere que os modelos actuais de educação básica são essencialmente desenhados a partir do modelo vigente na Prússia germânica, que eventualmente foi adoptado por um senhor alemão bem conhecido de todos nós. Independentemente de se acreditar nisto ou não (explico mais abaixo porque é que isto faz efectivamente sentido), penso que é bastante notório que os modelos escolares actuais apenas surgiram com a chegada da revolução industrial. Era preciso que os potenciais empregados tivessem um mínimo de formação para conseguirem executar alguns dos trabalhos mais "complicados" que estavam a ser criados nas fábricas, mas mais importante que isso, que tivessem uma forma de pensar e agir o mais padronizado possível. No final de contas um empregado imprevisível é sempre um mau empregado. E penso que é aqui que o senhor acerta na "mouche".

A escola é uma seca!!! Mesmo os miúdos mais certinhos e bem comportados eventualmente acabam por se descair e dizer isso mesmo. Mas ainda mais importante é o ciclo vicioso que se cria. Do mesmo autor:

"Boredom is the common condition of schoolteachers, and anyone who has spent time in a teachers' lounge can vouch for the low energy, the whining, the dispirited attitudes, to be found there. When asked why they feel bored, the teachers tend to blame the kids, as you might expect. Who wouldn't get bored teaching students who are rude and interested only in grades? If even that. Of course, teachers are themselves products of the same twelve-year compulsory school programs that so thoroughly bore their students, and as school personnel they are trapped inside structures even more rigid than those imposed upon the children. Who, then, is to blame?"

Ele refere-se ás escolas de Manhattan, mas exactamente o mesmo se poderia dizer das escolas Portuguesas. Uma incursão à minha antiga escola secundária (que é reconhecida como uma escola boa e com elevadas taxas de sucesso) para propor um projecto diferente para a área escola, revelou-me um cenário em tudo idêntico ao descrito no texto... sem tirar nem pôr! Quanto à pergunta de quem é a culpa, o autor responde que é de todos nós. De todos aqueles que fazem parte da estrutura (professores, pais, sociedade em geral) e que se deixam consumir pelo tédio e pelo queixume, e não tentam encontrar formas alternativas de ensinar, de cativar os alunos, de efectivamente transmitir algo de estimulante. Podemos ter o melhor sistema de ensino do mundo (e no caso do Ensino Superior em Portugal em teoria é dos melhores da Europa) mas são as pessoas que aplicam o sistema que definem a sua eficácia, e não a qualidade conceptual do mesmo. E actualmente é mesmo urgente mudar o sistema. É verdadeiramente tenebroso ler a interpretação que ele faz das principais directivas do criador e principal executor do método de ensino actual. Para não alongar ainda mais este "post" vou por apenas aqui dois que são representativo do espírito do senhor:

"1) The adjustive or adaptive function. Schools are to establish fixed habits of reaction to authority. This, of course, precludes critical judgment completely. It also pretty much destroys the idea that useful or interesting material should be taught, because you can't test for reflexive obedience until you know whether you can make kids learn, and do, foolish and boring things.

5) The selective function. This refers not to human choice at all but to Darwin's theory of natural selection as applied to what he called "the favored races." In short, the idea is to help things along by consciously attempting to improve the breeding stock. Schools are meant to tag the unfit - with poor grades, remedial placement, and other punishments - clearly enough that their peers will accept them as inferior and effectively bar them from the reproductive sweepstakes. That's what all those little humiliations from first grade onward were intended to do: wash the dirt down the drain."

Espero sinceramente que o John esteja errado e a exagerar fortemente, mas a verdade é que é fácil encontrar uma relação entre o que se passa actualmente nas escolas e aquilo que ele diz.

E porque é que me lembrei disto? Por causa de comentários feitos por certas personagens políticas como "Temos que desmistificar o dogma da escola inclusiva" e que "a resposta a esse problema (insucesso a matemática) não pode ser... dizer que a matemática é fácil e divertida". De facto esta ideia de que a escola deve ser rigorosa e seleccionar os melhores chumbando e segregando os piores vem de um outro conceito muito em voga no início do nosso século e que ficou conhecido como Eugenia. Esta ideia até era interessante, não fosse o pequeno pormenor de ser completamente estúpida e baseada em interpretações "ligeiramente" desviadas de um conceito introduzido por um Inglês metódico, bastante reservado e um pouco dado à hipocondria. A introdução do conceito de eugenia no mundo deve-se, não a um qualquer general alemão com a mania das grandezas, mas sim a um aristocrata inglês com a mania que era esperto (que curiosamente era primo do hipocondríaco). A aplicação de políticas eugénicas pelo mundo fora também não se deve a nenhum alemão, mas sim a um advogado americano cujo bisavô provavelmente nunca deveria ter nascido. Ele escreveu um livro com o título fantástico de "The passing of the Great Race", onde defendia que os povos europeus nórdicos eram superiores a todos os outros. Não será de espantar então que o tal alemão de que falei no início tenha escrito pessoalmente ao advogado a dizer que o livro "The passing of the Great Race" era a sua bíblia. E esta hein?!

Curiosamente, o tal advogado foi também um dos impulsionadores do movimento ambientalista moderno, e ao que parece as duas correntes (ambientalismo e eugenia) não eram propriamente independentes em termos morais, mas isso é outra história.

E para melhorar ainda mais as coisas, sai este estudo. A cereja em cima do bolo! A sério, o pessoal tem mesmo que começar a juntar as peças e a pensar neste problema de forma um bocadinho menos leviana.

Conclusão, o problema da educação é complexo, e soluções eficazes terão que naturalmente passar um pouco pela melhoria da qualidade da classe profissional do ensino (professores e técnicos), uma melhor gestão financeira das instituições (escolas e direcções regionais da educação), um mais eficaz programa educativo que cative os alunos e ao mesmo tempo lhe ensine alguma coisa de útil e saudável. E claro está, que os encarregados de educação têm também que estar sensibilizados para a importância do seu papel em todo o processo. No entanto, de cada vez que se discutem todos estes assuntos atacando o dogma da escola inclusiva, elegendo a exigência e rigor da avaliação como solução, culpando a suposta indisciplina dos alunos, é importantíssimo não esquecer que o sistema actual foi fundado com princípios discriminatórios e que pouca preocupação tinham com a dignidade e enriquecimento da natureza humana.


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